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Mamacadela é o nome popular. Por que será?

Com o apoio da botânica e Prof.ª Dra. Renata Corrêa Martins, da UnB Cerrado, iniciamos um trabalho cientifico de identificação de plantas para uso medicinal e alimentício, existentes no Cerrado. Você sabia que grande parte das plantas medicinais dos nossos quintais não são nativas do Brasil? E que ainda desconhecemos o nosso potencial de plantas medicinais? Nosso objetivo com este Laboratório de Plantas é contribuir com a preservação de plantas medicinais e para alimento, numa área em acelerada destruição. O nordeste goiano pode estar guardando a cura para inúmeras doenças contemporâneas. As novas descobertas de plantas serão doadas para o Herbário da Universidade Nacional de Brasília, aberto à pesquisa. Queremos compartilhar com você o nosso compromisso com o Cerrado e falar sobre a urgência da sua preservação para o bem comum de todos nós.

Dra. Andréa Alvarenga


Figura 1. Frutos maduros (alaranjados) e imaturos (verdes) de Mamacadela. Foto: Projeto CMBBC

Nome científico:

Brosimum gaudichaudii Trécul

Família:

Moraceae

bureré, mamacadela, puxa-puxa, fruta-cera, mamica-de-cadela

Descrição da Espécie

Arbusto ou arvore com caule e ramos que liberam látex branco. As folhas são simples, subcoriáceas, pubescentes (pelos muito curtos) na face inferior o que torna a folha esbranquiçada nesta parte; o tamanho é variável na mesma planta, a forma é elíptica ou lanceolada e a margem suavemente denteada. As flores são discretas e pequenas, os frutos são irregularmente arredondados, alaranjados e com polpa fibrosa e suculenta, de sabor doce; tem apenas uma semente.

Fenologia

Floresce de junho a agosto e os frutos estão maduros de setembro a novembro (Lorenzi et al. 2015).


Origem

É nativa do Brasil e pode ser encontrada de norte a sul. Os domínios fitogeográficos onde encontramos a espécie são: Amazônia, Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica e os tipos de vegetação são: o Cerrado (lato sensu), a Savana Amazônica e as áreas antrópicas (Brosimum in Flora do Brasil 2020)


Uso alimentício

Os frutos são consumidos in natura, especialmente na região Centro-oeste.

Mamacadela Raiz foto Renata

Figura 3. Casca de Mamacadela. Foto: Renata C. Martins

Foto Herbario Mamacadela

Figura 2. Exemplar de Brosimum gaudichaudii do herbário da Embrapa. Disponível em: . Acesso em: 28 de abril de 2017.

Uso Medicinal

O uso medicinal da Mamacadela é reconhecido em diversas regiões do Brasil. Geralmente as raízes são comercializadas em feiras livres e são indicadas para tratamentos dermatológicos (Macedo & Ferreira, 2004), para inflamação, anemia e dismenorréia por comunidades indígenas no Estado do Maranhão (Coutinho, 2002). Na região de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, a planta é indicada para o tratamento da coluna, infecções, dermatites e viroses em animais (Souza & Felfili, 2006).

Outros estudos indicam a mamacadela para o tratamento de gripes, resfriados e bronquites, como depurativo e para má circulação de sangue (Rodrigues & Carvalho, 2001). Foram verificadas propriedades medicinais para tratar manchas de pele, vitiligo e bronquite, sendo utilizada a raiz e a casca do caule por decocção ou infusão. Foi encontrada atividade antibiótica das plantas de Brosimum gaudichaudii na flora nordestina (Aguiar et al. 1988; Vila Verde et al. 2003).

Devido ao crescente interesse em relação às propriedades medicinais da espécie Brosimum gaudichaudii, estudos farmacológicos e etnobotânicos dessa espécie estão sendo realizados. As propriedades químicas, biológicas, farmacológicas e toxicológicas da Mamacadela foram avaliadas, em busca de novos medicamentos (Pozetti 2005). Outros autores confirmaram que a extração de bergaptenos da casca e da raiz do Brosimum gaudichaudii pode ser utilizada em forma de pomada ou solução a 20% para tratamento de vitiligo ou discromias (Neves et al. 2002).


Referências bibliográficas

AGUIAR, L. M. B. A., MATOS, F. J. A. & MOURA, V. L. A.1988. Atividade antibiótica de plantas medicinais da flora nordestina (Brosimum gaudichaudii Trec., Croton mucronofoltus Muell. Arg., Luetzelburgia auriculata Ducke, Stenocalyx michelli Berg e Vatairea macrocarpa Ducke). Supl. Acta Amazonica, 18 (1-2): 89-90.

BROSIMUM in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: . Acesso em: 28 Abr. 2017.

COUTINHO, D. F., TRAVASSOS, L. M. A., AMARAL, F. M. M. 2002. Estudo etnobotânico de plantas medicinais utilizadas em comunidades indígenas no estado do Maranhão – Brasil. Visão Acadêmica, Curitiba, v.3., n.1., p 7-12.

LORENZI, H., LACERDA, M.T.C., BACHER, L.B. 2015. Frutas no Brasil nativas e exóticas: (de consumo in natura). São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora.

MACEDO, M. & FERREIRA, A. R. 2004. Plantas medicinais utilizadas para tratamentos dermatológicos, em comunidades da Bacia do Alto Paraguai, Mato Grosso. Revista Brasileira de Farmacognosia. vol. 14 suppl.0 Maringá.

RODRIGUES, V. E. G., CARVALHO, D. A. 2001. Levantamento etnobotânico de plantas medicinais no domínio Cerrado na Região Alto Grande – Minas Gerais. Cienc. Agrotec., Lavras, v.25, n.1. p. 102 – 123.

NEVES, M. L. P., FERREIRA NETO P. G, SOUZA DA SILVA S. M., ARAÚJO, J. M. 2002. Ensaio para detectar bergapteno na casca e no caule de Brosimum gaudichaudii Trec, através da produção de melanina em actinomicetos. Rev Bras Farmacogn. 12(supl):53-4

POZETTI, G. L. 2005. Brosimum gaudichaudii Trecul (Moraceae): da planta ao medicamento. Rev. Ciênc. Farm. Básica Apl., v. 26, n.3, p. 159 – 166.

SOUZA, C. D. & FELFILI, J. M. 2006. Uso de plantas medicinais da região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil. Acta Bot. Bras. 20(1): 135-142.

VILA VERDE, G. M., PAULA, J. R. & CARNEIRO, D. M. 2003. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais do cerrado utilizadas pela população de Mossâmedes (GO). Rev. Bras. Farmacogn., v. 13, supl., p. 64-66.


Quem é a Prof.ª Dra. Renata Corrêa Martins – Bacharel em Biomedicina pela PUC-GO, Mestrado e Doutorado (2012) em Botânica pela UnB. É especialista em taxonomia de Arecaceae (Palmae) e atualmente, a principal área de interesse é a Etnobotânica, onde realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão com as palmeiras nativas e outros grupos de plantas nativas do Cerrado, especialmente de uso medicinal. Como professora visitante na UnB-Cerrado. Ministra as disciplinas “Etnobotânica do Cerrado” e “Estudos Interdisciplinares do Cerrado”. É Colaboradora do projeto BIOCHÁS da Dra. Andréa Alvarenga e está responsável pelas identificações botânicas das espécies medicinais cultivadas e nativas.

O uso medicinal da Mamacadela é reconhecido em diversas regiões do Brasil. Geralmente as raízes são comercializadas em feiras livres e são indicadas para tratamentos dermatológicos para inflamação, anemia e dismenorréia por comunidades indígenas no Estado do Maranhão.

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